A arena, o metrô e as paçocas

* Artigo do jornalista André Justino, escrito no dia da partida Alemanha x Estados Unidos, pela Copa do Mundo.

A manhã do quarto jogo na Arena Pernambuco, entre as seleções da Alemanha e dos Estados Unidos foi marcada pela chuva e pela circulação no metrô de um número considerável de torcedores. As faces comuns do dia a dia, de pessoas que seguiam para o trabalho, guardavam nítido contraste com os alemães e norte americanos de porte físico alto e a pele clara. Mas, foi no trem da linha Jaboatão, que se deu o maior dos contrastes, lá, fora do alcance da fiscalização da Dircon, o menino Wesley, de 12 anos, vendia paçocas de amendoim dentro do metrô, sem nem se preocupar com a fantasia passageira da realização da Copa do Mundo.

O garoto, de passos e fala rápida, que circulava entre um vagão e outro carregando uma caixa cheia de paçocas e que provavelmente tinha o mesmo peso dele, disse que morava no bairro do Barro Vermelho, em São Lourenço da Mata, cidade onde se dá os jogos do Mundial. Os trajes dele não omitiam sua origem, se na frente do corpo carregava a caixa, nas costas trazia uma mochila da rede pública de ensino são lourencense, que dizia em letras garrafais “CIDADE DA COPA”.

Na viagem ele disse que vendia no metrô, pois tinha de se virar para conseguir dinheiro, mas que quando dava ele ia para a escola. “Minha mãe está em casa chegou essa semana da prisão e meu pai está morto”, sentencia o menino, quase que admitindo não ter outra opção de vida. “Venho para Jaboatão, pois tem muito guarda de Coqueiral para lá”, reforçando a informação de que há um aumento na segurança das estações localizadas em Recife, com equipes da prefeitura que inclusive tomam as mercadorias dos ambulantes e os colocam para fora do metrô.

Ao chegar à estação Jaboatão, em meio à multidão que se aglomerava nas portas do trem para descer, o pequenino Wesley sumiu. Só foi visto novamente fora dos vagões, já acompanhado por uma agente terceirizada da segurança da CBTU. Ela, que disse já ter sido previamente avisada da presença de um vendedor ambulante no trem, o direcionou até a integração do sistema SEI de Jaboatão, lhe apontando a parada do ônibus que voltava para estação Floreano, “Lá você consegue entrar novamente e não volte mais aqui não viu, pois vou ter de agir de outra forma”, adverte a segurança.

De lá o franzino menino seguiu. Não se sabe se voltará para casa em São Lourenço da Mata ou para uma nova empreitada, desviando-se dos seguranças no metrô. O que se sabe é que a caixa ainda estava cheia e menos mal que ele não a perdeu, pois era o sinal de que se por um lado com um Real dentro da arena não daria para comprar nada, do lado de fora, com a mesma moeda alguém poderia adquirir sete paçocas, ou seja, Wesley ainda tinha muito trabalho pela frente.

Garoto foi apenas mandado embora pela segurança do metrô
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Venda de mercadorias é corriqueira, mas trabalho infantil deveria ter atenção especial
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Criança foi proibida de vender paçocas no metrô
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